Revisitando as práticas, o Programa de Fortalecimento Familiar e Comunitário- Recife/PE, entendeu que era preciso inová-las, buscando novos caminhos que levariam os atores participantes desta história a se reinventar e se perceberem como seres de deveres e de direitos, revendo assim uma modelo superado de educação bancaria, onde as letras só interessam a quem as possuem decoradas no cognitivo, onde a magia dos livros não ultrapassam as figuras coloridas dos seu interior.
Este mundo que foi pintado de cores pardas nos caminhos educacionais que muitas vezes são trêmulos e ineficazes, deixa marcas na base cognitiva da criança, na qual se criam muros muitas vezes difíceis de transpor. Entendemos que o remédio nada mais é do que a mistura de oportunidade com estímulos e aí sim a literatura se vale de todos os seus contos e encantos. Agora é a minha vez de contar uma história. Estão prontos(as)?, Era uma vez..... uma caixa de papelão, de sapato, de DVD,ou sei lá o que! Transformou-se numa mala de saberes e sabores, empapelada com pedaços de revista e um pouco de cola. Pronto! Surge ela, a responsável por sorrisos, curiosidades, mentes criativas e crianças protagonistas: “A mala de leitura”. Iniciou-se em uma pequena caixa de sapato, pequeninaaaaaa, mas feita com muito carinho pela educadora Isabel, esta que sempre estava atenta e ansiosa pela oportunidade de levá-la à prática. Muitas foram às tentativas, várias foram às frustrações, quase nada se tinha no acervo de livros paradidáticos para que esta mala viajasse longe.
Um belo dia, um e-mail muda tudo. A Fundação Educar Dpaschoal doadora de livros paradidáticos recebe nosso cadastro e envia 150 (cento e cinqüenta) livros! Para nós, foi uma alegria só, pense que essa dose de estímulo foi fundamental para que a mala viajasse para a casa das crianças, recheada de livros, para ser deliciada pela família e amigos, foi uma festa! A educadora não podia se conter de tanta alegria, o projeto nasce dos saberes e incertezas de uma vida para muitas vidas.
João retorna com a mala, cheio de novidades e relata na roda de conversa a satisfação que foi ler os livros com a mãe mesmo sem apropriação devida das letras. As imagens para ele foram fundamentais.
No amanhecer do novo dia todos queriam levar a mala, era uma confusão, pense! E assim ela viajou casas e casas, aproximando pais e filhos, irmãos, vizinhos .... Passou-se o tempo e a mala ficou pequena, porém maior no seu fazer, criou pernas e andou até a praça do Engenho do Meio, feito uma minhoca onde cada elo desta era uma criança atrás da outra na fila. Rompendo os muros do Centro Social, a leitura invade a praça formada por uma grande roda de crianças, despertando a curiosidade de senhoras, policiais, moradores e outras crianças. O movimento que sem querer querendo impactava o bairro, todo mundo olhava, a rotina foi estabelecida, quando era dia de leitura na praça as expectativas eram grandes:
“Gosto da roda de leitura da praça”(Alisson-05 anos).
“Tia manda este menino da bicicreta, sentar na roda pra escuta a história.” (Wellington-06 anos).
“ É bom a roda na praça, lá tem muitas árvores e muito vento”(Nívia – 05 anos).
“A roda da praça é massa!” (Leandro- 07 anos).
“Eita, tia olha a letra do meu nome no livro... rsrsrsrs” (Thiago- 07 anos).
É assim que todos vêem esta ação tão impactante, o gosto apurado pela leitura, a cooperação entre os participantes, o desejo de aprender leva as crianças a entender que na vida existem vários caminhos basta oportunizá-los.
Hoje temos cerca de 500 livros, todos doados, ambientalizamos a sala com almofadas, tapetes bonecos(as) de pano, livreiro, aconchegando este filho, que nasceu e cresce nas mãos e nas mentes das nossas crianças.
Juliana Gomes
Assistente Pedagógica
Aldeias Infantis SOS Recife
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